AS ARMADILHAS NO PROCESSO SINODAL
Realizou-se, no dia 19 de junho, domingo, como estava programado, o retiro mensal sinodal, subordinado ao tema “Para uma Igreja sinodal: evitar as armadilhas”, em que participaram 16 pessoas, presencialmente, e um número indeterminado, pelo facebook.
Como tem acontecido em cada mês, o retiro tem-se realizado numa metodologia sinodal, interlaçando oração, exposição, diálogo, dando tempo a que todos falem, e exortando os demais a uma respeitosa escuta. Reflectimos sobre as armadilhas que este processo sinodal pode ter, que impem os frutos desejados, para sermos realmente uma Igreja sinodal.
A primeira armadilha é a tentação de querermos ser o guia de nós mesmos em vez de nos deixarmos guiar por Deus. Não nos esqueçamos que o sínodo é um processo espiritual conduzido pelo Espírito Santo. Sejamos barro nas mãos do divino oleiro (Is 64,8).
A segunda armadilha é a tentação de nos concentrarmos em nós próprios e nas nossas preocupações imediatas. A de nos fecharmos em nós próprios. O Processo Sinodal é uma oportunidade para nos abrirmos, para olharmos à nossa volta, para vermos as coisas a partir de outros pontos de vista e para sairmos em perspetiva missionária ao encontro dos outros.
A terceira armadilha é a tentação de ver apenas “problemas”. Demo-nos conta que fixar-nos apenas nos problemas é um caminho com uma única saída: sentir-nos esmagados, desencorajados e cínicos. Vamos, antes, apreciar os lugares onde o Espírito Santo já está a gerar vida e ver como podemos deixar que Deus trabalhe mais plenamente.
A quarta armadilha é a tentação de nos concentrarmos apenas nas estruturas. A experiência da sinodalidade deve concentrar-se antes de mais na experiência de caminhar juntos para discernir o caminho a seguir, inspirados pelo Espírito Santo. A conversão e a renovação das estruturas só serão possíveis através da conversão e renovação permanentes de todos os membros do Corpo de Cristo.
A quinta armadilha é a tentação de um olhar que não ultrapassa os limites visíveis da Igreja. É um fecharmo-nos dentro das fronteiras da Igreja. Um Processo Sinodal é um tempo de diálogo com pessoas do mundo da economia e da ciência, da política e da cultura, das artes e do desporto, dos meios de comunicação e das iniciativas sociais. Será um tempo para refletir sobre a ecologia e a paz, sobre várias questões da vida e sobre as migrações. É preciso ter horizontes bem alargados com o objetivo de cumprirmos a nossa missão no mundo. O Processo Sinodal é também uma oportunidade para aprofundar o caminho ecuménico com as outras confissões cristãs, bem como o nosso diálogo com outras tradições de fé. O espírito deste sínodo é o espírito do concílio vaticano II que se abriu ao mundo, dialogando com cada homem e com todos os homens, com todas os cristãos e as religiões não cristãs, como diziam os Padres conciliares, na sua mensagem a todos os homens: “acreditamos que todos homens são nossos irmãos”. Acolhamo-los, pois, como irmãos, seus preconceitos!
A sexta armadilha é a tentação de perder de vista os objetivos do Processo Sinodal. Teremos o cuidado para que, apesar da abrangência das nossas discussões, o Processo Sinodal mantenha o objetivo de discernir a forma como Deus nos chama a caminhar juntos.
A sétima armadilha é a tentação do conflito e da divisão. “Que todos sejam um só” (Jo 17,21). Esta é a oração ardente de Jesus ao Pai, pedindo a unidade entre os seus discípulos. O Espírito Santo leva-nos mais profundamente à comunhão com Deus e uns com os outros. As sementes da divisão não dão frutos. É inútil tentar impor as nossas ideias a todo o Corpo através da pressão ou desacreditar quem sente as coisas de maneira diferente de nós. A Santíssima trindade é sinodal como nos mostra a oração do sínodo ao Espírito Santo: “Vós que, sempre e em toda a parte, agis em comunhão com o Pai e o Filho”. Como já nos demos conta nos meses passados, um dos problemas da Igreja é o daqueles que se consideram os donos da Igreja, que em vez de chamar escorraçam os que se aproximam para participar. A mentalidade legalista/farisaica desses “guardiães do templo”, impedem que a Igreja seja uma Igreja da misericórdia, que acolhe a todos, à maneira de Jesus.
A oitava armadilha é a tentação de tratar o Sínodo como uma espécie de parlamento, de uma luta entre partidos. Isto confunde a sinodalidade com uma “batalha política” em que, para governar, um lado tem de derrotar o outro. Antagonizar os outros ou encorajar conflitos divisionistas, que ameaçam a unidade e comunhão da Igreja, é contrário ao espírito de sinodalidade.
A nona armadilha é a tentação de escutar apenas aqueles que já estão envolvidos nas atividades da Igreja. Esta pode ser a abordagem mais fácil de gerir, mas acaba por ignorar uma proporção significativa do Povo de Deus.
Várias vezes nos demos conta como é difícil escutar verdadeiramente os outros, por causa dos nossos preconceitos, que facilmente nos levam a rotular os outros. Outro mal que cria muitas divisões é a maledicência, o falar mal dos outros, como o Papa Francisco nos tem advertido.
O retiro concluiu com a adoração do Santíssimo e a oração de vésperas. Saímos deste retiro com uma grande vontade de sermos Igreja sinodal, e com o compromisso concreto de não falar mal dos outros.
P. Basileu Pires, MIC