“OS POBRES: PROTAGONISTAS DO CAMINHO DA IGREJA”

OS POBRES: PROTAGONISTAS DO CAMINHO DA IGREJA
Retiro mensal em Balsamão ao ritmo do sínodo

No âmbito do sínodo sobre a sinodalidade, que está a decorrer na Igreja, realizou-se, no domingo passado (dia 25 de fevereiro), o retiro mensal, em Balsamão, subordinado ao tema “Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja”, com a participação de 11 pessoas e sob a orientação do P. Basileu Pires, MIC.
Depois da oração de laudes, a reflexão, iniciada com a oração ao Espírito para o sínodo, partiu da síntese da primeira sessão da Assembleia do sínodo dos Bispos, realizada no último outubro: “Uma Igreja sinodal em missão”. Perguntámo-nos o que era ser protagonista na Igreja sinodal, na Igreja comunhão, participação e missão que queremos ser. É os pobres terem um lugar de destaque, do caminho que fazemos juntos, como Igreja que somos. Serem membros intervenientes, activos, na vida da Igreja. E fomos verificar em que medida a síntese da Assembleia dá esse destaque, esse protagonismo aos pobres.
Todos na Assembleia então de acordo que “à Igreja os pobres pedem amor. Por amor entende-se respeito, acolhimento e reconhecimento” da dignidade da pessoa dos pobres. “Respeito e reconhecimento são instrumentos poderosos de ativação das capacidades pessoais, de modo que cada um seja sujeito – protagonista – do seu próprio percurso de crescimento e não objeto da ação assistencial de outros”.
É aqui que sentimos a Igreja, que somos nós, estamos muito aquém desta prática.

Entre os múltiplos rostos dos pobres, elencam: “todos aqueles que não têm o necessário para levar uma vida com dignidade”, “os dos migrantes e refugiados”, “povos indígenas, originários e afrodescendentes; os que sofrem violência e abuso, de modo particular as mulheres; pessoas com dependências; minorias às quais é sistematicamente negado o direito a ter voz; idosos abandonados; vítimas do racismo, da exploração e do tráfico, de modo particular menores de idade; trabalhadores explorados; pessoas economicamente excluídas e outras que vivem nas periferias. Os mais vulneráveis entre os vulneráveis, a favor dos quais é necessária uma constante ação de defesa, são as crianças no ventre materno e as suas mães. A Assembleia está consciente do clamor dos “novos pobres”, produto das guerras e do terrorismo que martirizam muitos países em diferentes continentes, e condena os sistemas políticos e económicos corruptos que são a sua causa”. “A par das múltiplas formas de pobreza material, o nosso mundo conhece também as formas da pobreza espiritual, entendida como falta de sentido para a vida”.

“O compromisso da Igreja deve chegar às causas da pobreza e da exclusão. Isto engloba a ação para tutelar os direitos dos pobres e dos excluídos, e pode exigir a denúncia pública das injustiças”. “Os cristãos têm o dever de esforçar-se por participar ativamente na construção do bem comum e na defesa da dignidade da vida, inspirando-se na doutrina social da Igreja e agindo de diversas formas”.
A Igreja é chamada não apenas a tornar-se próxima dos pobres, mas “a aprender com eles”. “Se fazer sínodo significa caminhar juntamente com Aquele que é o caminho, uma Igreja sinodal precisa de colocar os pobres no centro de todos os aspetos da sua própria vida: através dos seus sofrimentos têm um conhecimento direto de Cristo que sofre”. “A semelhança da sua vida com a do Senhor torna os pobres anunciadores de uma salvação recebida em oferta e testemunhas da alegria do Evangelho”.

Entre as questões a aprofundar, a Assembleia acentua que “colocar os pobres no centro e aprender com eles é algo que a Igreja deve fazer cada vez mais”. Além disso, na “denúncia profética das situações de injustiça e a ação de pressão em relação aos decisores políticos”, “é preciso vigiar para que o uso de fundos públicos ou privados por parte das estruturas da Igreja não condicione a liberdade de falar em nome das exigências do Evangelho”.
”A ação nos campos da educação, da saúde e da assistência social, sem qualquer discriminação ou exclusão de ninguém, é um sinal evidente de uma Igreja que promove a integração e a participação dos últimos, dentro dela mesma e na sociedade”. Porém, “A Igreja deve ser honesta ao examinar a forma como respeita as exigências da justiça em relação àqueles que trabalham nas instituições a ela ligadas, para testemunhar com integridade a sua coerência.”

No que se refere às “Propostas”, o documento síntese diz:
“A doutrina social da Igreja é um recurso demasiado pouco conhecido, no qual é necessário voltar a investir”. É necessário também que a “partilha de vida e do serviço aos pobres e aos marginalizados se torne parte integrante de todos os percursos formativos oferecidos pelas comunidades cristãs: trata-se de uma exigência da fé, não de uma opção. Isto vale em particular para os candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada”. Além disso, no repensamento do ministério diaconal, é preciso que se promova “uma orientação mais decidida desse ministério ao serviço dos pobres”.
E como “o clamor da terra e o clamor dos pobres são o mesmo clamor”, urge que se integrem “de maneira mais explícita e atenta, no ensino, na liturgia e nas práticas da Igreja, os fundamentos bíblicos e teológicos da ecologia integral”.

O retiro mensal incluiu a celebração da Eucaristia dominical, às 12h, e conclui com a adoração e a oração de vésperas, pelas 16:30h.

P. Basileu Pires, MIC

 

0 Comments