“Misericórdia e sinodalidade”

MISERICÓRDIA E SINODALIDADE

Decorreu, no dia 15 de janeiro, em Balsamão, o retiro mensal, subordinado ao tema “Misericórdia e sinodalidade”, sob a orientação do P. Basileu Pires, MIC, e com a participação de 6 pessoas, presencialmente, e de um número indeterminado de participantes online.
Começou com a oração de manhã (laudes), pelas 9:30h, e concluiu, pelas 17h, com a oração da tarde (vésperas)e adoração do Santíssimo.
A reflexão, feita em estilo sinodal, iniciou-se com a oração ao Espírito Santo, pedindo-lhe que nos ensinasse “o que devemos fazer”, e que nos mostrasse “o caminho a seguir, todos juntos”, que a justiça não fosse lesada por nós pecadores, que a ignorância não nos desviasse do caminho, nem as simpatias humanas nos tornasse parciais, “para que sejamos um”, no Espírito Santo, e “nunca nos separemos da verdade”, agindo como o Espírito Santo, que, “sempre e em toda a parte”, age “em comunhão com o Pai e o Filho pelos séculos dos séculos”.
Rezamos e reflectimos juntos sobre a Igreja da misericórdia que somos chamados a ser. A Igreja da misericórdia é uma Igreja sinodal. A Igreja é obra da misericórdia de Deus (Cf EG 112), e, por conseguinte, ela “deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114). Na parábola sobre a necessidade de perdoar sempre ou do “servo sem compaixão” (Mt 18, 21-35), “Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir” (MV, 9). “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”, diz-nos Jesus (Lc 6, 36). “A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho”, mas “é determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia.” (MV 12). “Na misericórdia, temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca” (MV 14). A Igreja é chamada a cuidar das feridas dos homens de hoje, “aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas” (MV 15).
O Papa Francisco, tem reafirmado que a Igreja “é chamada a ser um ‘hospital de campo’, para curar tanto as feridas espirituais quanto físicas”.

No sínodo sobre a sinodalidade da Igreja, que está a decorrer (de 2021 a 2024) e para o qual fomos todos convocados, já descobrimos que a sinodalidade indica o caminho que os membros do Povo de Deus percorrem juntos. “A sinodalidade designa, antes de mais, o estilo peculiar que qualifica a vida e a missão da Igreja, exprimindo a sua natureza como Povo de Deus que caminha em conjunto e se reúne em assembleia, convocado pelo Senhor Jesus na força do Espírito Santo, para anunciar o Evangelho. Ela deve exprimir-se no modo ordinário de viver e de agir da Igreja” (Cf. Vademecum para o sínodo, 1.2).
Por isso, o processo sinodal “é um processo de escuta uns dos outros, de libertação da palavra e do sentir crente, em pequenos grupos ou comunidades. Para que, cada pessoa possa dizer o que sente, como se sente em Igreja, se se sente feliz, ferida, humilhada, como é possível de mudar, que caminhos gostaria que fizesse a Igreja para curar as feridas sentidas por tantas pessoas, vítimas de agressão, de humilhação, de exclusão” (P. António Manuel Martins).
Concluímos, assim, que a Igreja sinodal (de comunhão, participação e missão) que queremos ser, tem que ser a Igreja da misericórdia, que se manifesta, em primeiro lugar, no escutar “para compreender e não para responder”, em ordem a curar as feridas sentidas por tantas pessoas, feridas que ferem a comunhão e a participação, que nos impedem de anunciar o Evangelho da misericórdia com credibilidade.
Foi neste sentido que abordámos a mensagem do Papa Francisco para o XXXI Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro de 2023), com o sugestivo tema: “ ‘Trata bem dele’(Lc 10,35) – A compaixão como exercício sinodal de cura”.
“A doença faz parte da nossa experiência humana. Mas pode tornar-se desumana, se for vivida no isolamento e no abandono, se não for acompanhada pelo cuidado e pela compaixão”, diz-nos o Papa Francisco. “É exatamente nesses momentos que se vê como estamos a caminhar: se caminhamos verdadeiramente juntos ou vamos pela mesma estrada, mas cada um por sua conta, dando atenção aos seus próprios interesses e deixando que os outros ‘se arranjem’ ”.
“Por isso, diz o Papa, neste XXXI Dia Mundial do Doente e em pleno percurso sinodal, convido-vos a refletir sobre o facto de podermos aprender, precisamente através da experiência da fragilidade e da doença, a caminhar juntos segundo o estilo de Deus que é proximidade, compaixão e ternura”.
O Papa repropõe-nos o exemplo do bom samaritano da parábola evangélica (Lc 10, 30-37), que “se deixa mover pela compaixão e cuida daquele estranho à beira do caminho e trata-o como irmão”, para que tenhamos essa mesma atitude em relação aos nossos irmãos doentes: “ ‘Trata bem dele’ (Lc 10,35) é a recomendação do samaritano ao estalajadeiro. Mas Jesus repete-a igualmente a cada um de nós na exortação conclusiva: ‘Vai e faz tu também o mesmo’.”

P. Basileu Pires, MIC

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