Maria transbordante e transmissora de Misericórdia

Pe. João Carlos Roma Leite Rodrigues, MIC

 

«Maria levantou-se e partiu apressadamente…» (Lc 1,39)

 

No seguimento do tema da JMJ do Panamá 2019: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), o Papa Francisco sugeriu que avançássemos rumo à JMJ de Lisboa 2023, caminhando “juntos com a Virgem de Nazaré, que, imediatamente depois da Anunciação, «levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39) para ir ajudar a prima Isabel[1]. O tema da JMJ do Panamá evocava o sim de Maria como consentimento pronunciado em nome de toda a humanidade, não tanto para cumprir a vontade de Deus, mas sobretudo para deixar acontecer a Palavra de Deus, ou seja, para deixar Deus agir segundo a Sua vontade, ou parafraseando as palavras do Magnificat, para deixar Deus fazer em mim maravilhas (cf. Lc 1,49). Por conseguinte, o tema da JMJ de Lisboa evoca o sim de Maria como gesto de responsabilidade humana, decorrente da experiência de encontro e proximidade com Deus, que se concretiza mediante a atitude de levantar-se cheio de graça e pôr-se a caminho com entusiasmo para comunicar Deus aos outros, ou voltando a parafrasear as palavras do Magnificat, para deixar que Deus se sirva de mim para transbordar e transmitir a Sua misericórdia de geração em geração (cf. Lc 1,50).

 

Maria é aquela que, de modo particular e excecional – como ninguém mais, experimentou a misericórdia de Deus. Movido pelo seu desejo universal de salvação (cf. 1Tm 2,4), Deus leva a cabo a decisiva e definitiva tentativa para libertar o seu povo e redimir a humanidade inteira: “Deus amou tanto o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Com efeito, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (Gl 4,4) para nos resgatar das trevas da morte e da escravidão do pecado (cf. 1 Cl 1,13-14) e para nos tornar participantes da Sua natureza divina (cf. 2 Pe 1,4).

 

Maria de Nazaré foi a mulher eleita para cooperar nesta grande obra de redenção, sendo chamada para ser a mãe do Filho Unigénito de Deus, a mãe do Salvador do mundo. Mas convém sublinhar que a vocação de Maria é uma admirável condescendência do amor misericordioso de Deus que, por um desígnio insondável da sua benevolência, quis cumular o íntimo desta criatura humana com a plenitude da sua graça. Maria é a “cheia de graça” (Lc 1,28) que “achou graça diante de Deus” (Lc 1,30), o que quer dizer que tudo o que ela é deve-o à graça divina. Ela é o verdadeiro arquétipo da sola gratia, porque vive exclusivamente da graça. Por ela Deus fez tudo, ao passo que ela deixou fazer. A glória da conceção virginal e da maternidade divina não pertence a ela, mas exclusivamente a Deus, para quem nada é impossível (Lc 1,37) e, por isso, Maria define-se a si mesma como a humilde serva do Senhor (Lc 1,38 // 1,48), demonstrando a sua total disponibilidade para colaborar na obra da salvação. Através do sim generoso com que responde ao anúncio do anjo, Maria torna-se num instrumento da misericórdia de Deus. Ela é inteiramente recetora da misericórdia divina e, consequentemente, torna-se transbordante de misericórdia e transmissora de misericórdia.

 

Maria levanta-se transbordante de misericórdia

Em virtude do seu fiat obediente, Maria torna-se um recetáculo da misericórdia divina: “Com efeito, Deus ter escolhido e capacitado Maria através da graça, enquanto ser humano e enquanto jovem e simples mulher, para ser instrumento da misericórdia só a Ele devida e só a Ele possível, é uma vez mais expressão da misericórdia divina que ultrapassa todas as expetativas e todas as pretensões humanas[2]. Por meio da sua obediência de fé, Maria facilita a encarnação do Verbo Divino e transforma-se em tabernáculo da misericórdia divina encarnada[3].

 

A pequena Maria acreditou verdadeiramente naquilo que lhe foi dito da parte do Senhor e, portanto, concebeu o Filho do Altíssimo no seu seio virginal pelo poder do Espírito Santo. Mas apesar de ter sido eleita para ser a Mãe do Filho de Deus, ela jamais se envaideceu e em vez de se concentrar em si mesma, demorando-se em demasia para saborear os privilégios da graça divina, levanta-se e põe-se em movimento para fazer o bem e partilhar a alegria. O Anjo Gabriel quis fortificar a fé de Maria com um exemplo de que tudo é possível para Deus e anunciou-lhe o milagre da gravidez da sua parente Isabel, uma mulher idosa e estéril. Tomando conhecimento disto, Maria levantou-se e pôs-se a caminho, não por falta de confiança na mensagem, mas movida pelo entusiasmo da sua alegria interior e impelida pelo desejo de ajudar. Com efeito, se Maria é o ícone da Igreja orante, que faz silêncio para escutar a Palavra de Deus e se detém para contemplar as profundezas do mistério divino, ela é também “imagem da Igreja em caminho, a Igreja que sai e se coloca ao serviço, a Igreja portadora da Boa Nova[4].

 

A atitude de Maria depois da Anunciação deixa transparecer claramente que a contemplação e a ação sucedem-se numa intrínseca correlação. Quem experimenta o amor misericordioso de Deus dentro do seu coração sente um impulso espontâneo para ser misericordioso para com os outros. Maria é a mulher orante e contemplativa, mas é simultaneamente a mulher pronta e disponível que se levanta e sai à pressa para ir ajudar os outros. Ela é a Nossa Senhora do Silêncio, tesouro de calma e serenidade, mas é também a Nossa Senhora da Prontidão, manancial de ternura e de misericórdia. Quem faz a experiência do poder de cura e libertação da misericórdia divina na própria vida, sente-se imediatamente impelido a levantar-se e a sair para testemunhar a alegria do encontro com Deus e para partilhar com os outros o deslumbramento dessa profunda convicção de que o amor de Deus supera tudo, atua em todos e renova todas as coisas.

 

Comentando o versículo que serve de lema para a JMJ Lisboa 2023, o Papa Francisco sublinha que o verbo grego anástasin que normalmente se traduz por levantar-se significa também ressuscitar, despertar para a vida. Nesta perspetiva, podemos comparar o anúncio do Anjo a Maria ao terramoto da ressurreição (cf. Mt 28,2). Porém, contrariamente aos guardas do túmulo que tremeram de medo e caíram de pavor (cf. Mt 28,4), a jovem de Nazaré não se deixa paralisar pelas preocupações e temores derivados do inquietante anúncio do Anjo, aliás, levanta-se, porque “dentro d’Ela está Jesus, poder de ressurreição” e põe-se em movimento, porque “tem a certeza de que os planos de Deus são o melhor projeto possível para a sua vida[5]. A ação de se levantar mediante a experiência do poder misericordioso da graça divina sucede-se repetidamente no Evangelho de Lucas desde este preciso momento de interregno entre a Anunciação e a Visitação (Lc 1,39) até ao momento subsequente do primeiro anúncio da ressurreição, quando Pedro se levantou e correu ao túmulo (Lc 24,12), tendo sido interpelado pelo testemunho das mulheres que insistiam em afirmar que o Senhor ressuscitara (Lc 24,9-11). Este dinamismo de levantar-se renovado e pôr-se em movimento para uma vida nova aparece, por exemplo, na atitude serviçal da sogra de Pedro, que imediatamente após se sentir curada da febre, se levantou e se pôs a servir Jesus e os seus discípulos (Lc 4,39); no ato de gratidão e de louvor do paralítico que, no mesmo instante em que Jesus lhe disse: «Levanta-te e anda!» para que todos soubessem que o Filho do Homem tem o poder de perdoar os pecados, levantando-se, tomou a enxerga onde estivera deitado e foi para casa, glorificando a Deus (Lc 5,25); no momento da vocação de Mateus que, imediatamente após se sentir misericordiado e chamado por Jesus, se levantou e deixou tudo para O seguir (Lc 5,28); e ainda no primeiro vislumbre de conversão do filho pródigo que, caindo em si, tomou a decisão fulcral de se levantar para ir ter com o seu misericordioso pai (Lc 15,18.20). Através deste ambivalente verbo levantar-se, o Evangelista Lucas pretende catequizar os seus leitores sobre o poder ressuscitador do Senhor que vem ao nosso encontro para nos impelir a superar o limiar de todo o nosso fechamento autorreferencial e para nos provocar para entrar no dinamismo da ressurreição e deixar-nos conduzir por Ele ao longo dos caminhos que Ele nos queira indicar[6].

 

É significativo que o Papa Francisco tenha escolhido precisamente este verbo levantar-se como mote transversal a todos os três temas do caminho de peregrinação espiritual rumo à JMJ Lisboa 2023. É um verbo frequente na Exortação Apostólica Christus vivit que o Santo Padre dedicou aos jovens como um farol para iluminar as sendas da sua existência[7]. O próprio Papa admite que a escolha do versículo bíblico que constitui o tema da mensagem do Dia Mundial da Juventude de 2020: Jovem, Eu te digo, levanta-te! surgiu no contexto de uma palavra encorajadora que ele mesmo escreveu para os jovens logo nas primeiras páginas da referida Exortação Apostólica: “Se tu perdeste o vigor interior, os sonhos, o entusiasmo, a esperança e a generosidade, Jesus apresenta-Se diante de ti tal como se apresentou diante do filho morto da viúva e, com todo o seu poder de Ressuscitado, exorta-te: «Jovem, Eu te ordeno, levanta-te!» (Lc 7,14)[8]. Atualizando o conteúdo da mensagem salvífica desta palavra de Jesus que fez reviver o filho morto da viúva de Naim, Francisco desafia os jovens a aceitarem levantar-se para uma vida nova de ressuscitados. Esta vida nova que Cristo nos quer dar “é verdadeiramente uma nova criação, um novo nascimento; e não mera persuasão psicológica[9], já que a palavra de Cristo é uma palavra que tem espírito e dá vida (cf. Jo 6,63), ao invés das palavras mágicas que os autores de livros de autoajuda e os youtubers de coaching espiritual usam e abusam para resolver todos os problemas existenciais, tais como “deves acreditar em ti próprio”, “deves encontrar os recursos dentro de ti”, “deves tomar consciência da tua energia positiva”, que até podem ser palavras muito bonitas para quem tem uma vida próspera e bem sucedida, mas que não dizem nada a quem perdeu a alegria de viver e não funcionam  para quem estiver verdadeiramente morto por dentro: “A palavra de Cristo tem outra espessura: é infinitamente superior; é uma palavra divina e criadora, a única que pode restabelecer a vida onde esta se apagou[10]. Daí a premência de encetar uma viragem cultural a partir deste «Levanta-te!» de Jesus[11]. Numa cultura que quer os jovens isolados e alienados em mundos virtuais, a palavra de Jesus é um desafio para “sonhar”, “arriscar”, para esforçar-se para mudar o mundo, para desejar fazer coisas grandes e envolver-se em grandes causas, para aprender a contemplar a beleza do mundo real que, apesar das suas misérias e imperfeições, é sempre mais genuíno do que qualquer realidade virtual.

 

Na mensagem para o Dia Mundial da Juventude de 2021: Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste o Sucessor de Pedro inspirou-se na figura do apóstolo Paulo, a quem o Senhor aparecera a caminho de Damasco e exortara a levantar-se para o constituir arauto do Seu Evangelho e testemunha da Sua Ressurreição (cf. At 26,16). Sob este pano de fundo vocacional, o Sumo Pontífice dirige um apelo veemente aos jovens para abraçar a vida nova que nos é dada no Batismo e que pede a nossa dedicação para a missão que faz mudar a vida[12]: “Levanta-te! Não podes ficar por terra a «lamentar-te com pena de ti mesmo»; há uma missão que te espera! Também tu podes ser testemunha das obras que Jesus começou a realizar em ti (…) Levanta-te e testemunha com alegria que Cristo vive![13].

 

Esta abordagem hermenêutica do Papa Francisco para interpretar o verbo levantar-se no âmbito do dinamismo da Ressurreição, que ele fez questão de reiterar nas três mensagens de preparação espiritual para a celebração festiva da JMJ de Lisboa 2023 é fenomenal para nos ajudar a descobrir na juvenilidade e na jovialidade da Virgem da Visitação os traços característicos da “mulher pascal, num estado permanente de êxodo, de saída de si mesma para o Outro, com letra grande, que é Deus e para os outros, os irmãos e as irmãs, sobretudo os necessitados, como estava então a prima Isabel[14]. Nesta perspetiva, faz todo o sentido apresentar a jovem Maria de Nazaré como um autêntico modelo dos jovens em movimento, que não ficam imóveis diante do espelho a testar a melhor pose para uma boa selfie nem colados a um ecrã no intuito de se alhearem nas redes sociais, mas que se levantam do seu egocentrismo ensimesmado e se projetam para o exterior numa abertura à novidade dos outros e às surpresas do Totalmente Outro.

 

Maria põe-se em movimento impelida pela pressa da misericórdia

Maria a correr sobre os montes para ir ao encontro de Isabel reveste-se dos traços sublimes do mensageiro da Boa Nova prenunciado pelo profeta Isaías: “Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova, e que proclama a salvação!” (Is 52,7). Mas esta corrida formosa de Maria faz-nos lembrar também Rebeca, a jovem muito bela e virgem, correndo para anunciar notícias felizes (cf. Gn 24,16.28), espalhando o perfume do amor novo que extasiava a amada do Cântico dos Cânticos: “A voz de meu amado! Ei-lo que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas (Ct 2,8). Assim, a jovem Maria que se levanta engravidada por virtude do Espírito Santo e parte apressadamente, correndo pelas montanhas para visitar sua prima Isabel, aparece-nos como uma mulher bela, leve e feliz, cheia de encanto e de alegria, esposa amada e repleta de boas notícias, inabitada pelo Evangelho em Pessoa, Jesus Cristo, que ela humildemente serve como Seu Senhor e ternamente apresenta como Salvador do Mundo e aponta como o verdadeiro caminho da vida[15].

Com efeito, Nossa Senhora da Visitação que parte depressa para a montanha ao encontro de Isabel é simultaneamente a Nossa Senhora do Caminho, que os cristãos orientais costumam representar nos famosos ícones da tipologia Hodegétria, que à letra quer dizer “A Mostradora do Caminho”. Nestes ícones, a Theotókos – a Mãe de Deus – é normalmente representada como permanecendo de pé, segurando ternamente o Menino Jesus no braço esquerdo e apontando para Ele com a mão direita, como quem indica a fonte de salvação eterna (Heb 5,9), que é o próprio Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6). Conta-se que o ícone original teria sido pintado pelo evangelista São Lucas, o primeiro retratista da Virgem Maria e, segundo a tradição romana, a primeira pintura do evangelista da misericórdia foi precisamente o famoso ícone bizantino Salus Populi Romani (Protetora do Povo Romano). Reza a lenda que este ícone teria sido pintado em um pedaço de madeira da mesa utilizada na última ceia de Jesus com os apóstolos, enquanto Maria relatava a Lucas tudo o que tinha acontecido com seu Filho. Essa pintura permaneceu em Jerusalém até que foi descoberta por Santa Helena, que a levou primeiro para Constantinopla, onde reinava o seu filho, o imperador Constantino, e em seguida a transferiu para Roma, colocando-a na Basílica de Santa Maria Maior, onde ainda hoje é venerada com muita estima e devoção. No dia 13 de abril de 2003, Domingo de Ramos, depois da Missa na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II, deu a um grupo de jovens delegados para receber a cruz da JMJ uma cópia contemporânea deste antigo e sagrado ícone como “sinal da presença materna de Maria próxima aos jovens, que são chamados, como o apóstolo João, a acolhê-la em suas vidas[16]. É interessante redescobrir esta faceta da padroeira das Jornadas Mundiais da Juventude como a Virgem do Caminho, que nos ensina a fixar o nosso olhar de amor n’Aquele que nos amou primeiro e que nos incentiva a ousar caminhar contra a corrente e proclamar com vigor e entusiasmo a nova primavera do Evangelho[17]. Maria é a primeira evangelizada e a primeira evangelizadora, ou seja, a primeira a acolher o anúncio salvífico do Evangelho e a primeira a comunicar a alegria do Evangelho: “Esta dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dela um modelo eclesial para a evangelização[18]. Sempre que contemplamos a figura de Maria bela, leve e feliz, transbordante de graça e misericórdia, somos impelidos pela doce e reconfortante alegria de evangelizar e antevemos já, em contraluz, o retrato dos discípulos evangelizadores, fervilhando de zelo missionário, livres e desapegados sem bolsa, nem alforge nem sandálias, sem demoras inúteis (cf. Lc 10,4). Na mesma linha de pensamento com que confrontávamos a cena da Anunciação com o terramoto da Ressurreição, de igual modo será interessante comparar a pressa de Maria correndo alegremente sobre os montes para partilhar a alegria do Evangelho com a pressa que anima as primeiras mensageiras do anúncio pascal que se afastaram rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, correndo a dar a boa notícia aos discípulos (cf. Mt 28,8).

Santo Ambrósio de Milão, comentando a cena da Visitação, afirma que Maria partiu apressadamente para a montanha “porque estava feliz com a promessa e desejosa de prestar devotadamente um serviço, com o entusiasmo que lhe vinha da alegria interior. Agora, cheia de Deus, para onde poderia apressar-se se não em direção ao alto? A graça do Espírito Santo não admite morosidades[19]. Perscrutando o mesmo versículo no contexto da Festa da Visitação de Nossa Senhora, Santo Estanislau Papczyński, Fundador dos Marianos da Imaculada Conceição, afirma que a Santíssima Virgem Maria oferece-nos duas maneiras complementares de buscar a perfeição: a primeira consiste em aspirar às alturas da perfeição e esforçar-se para alcançar o seu mais alto grau; a segunda consiste em trabalhar apressadamente pela própria salvação e pela salvação do próximo, não desperdiçando por preguiça o tempo precioso, mas dedicando-se a ações meritórias, isto é, às obras de misericórdia[20]. Ao meditarmos sobre a pressa de Maria, concluímos que a sua pressa é impelida pela divina misericórdia que a projeta para o alto e para o outro e, desta forma, ela ensina-nos que a contemplação e a ação são dois modos concomitantes e complementares para alcançar a perfeição cristã, que é a perfeição da caridade. Olhando para Maria impelida pela pressa da misericórdia podemos entender melhor o que significa ser contemplativo na ação na realização da vocação consagrada que é esse estilo de vida especial de quem procura manter uma forte relação de amor com Deus e de quem se sente consequentemente compelido para anunciar a Sua ternura e oferecer a Sua misericórdia[21].

Uma pronta resposta à vocação divina suscitou dentro da Virgem Maria uma pressa para agir perante a necessidade concreta e urgente da sua prima idosa: “A pressa da jovem mulher de Nazaré é a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor e não podem deixar de partilhar, de fazer transbordar a graça imensa que experimentaram. É a pressa de quem sabe colocar as necessidades do outro acima das próprias[22]. No âmbito da pressa de Maria que, depois da Anunciação, pensou mais em Isabel do que nela própria, o Papa Francisco chama a atenção de que as grandes perguntas existenciais devem situar-se não tanto em referência a si mesmo, mas em relação aos outros: “Há muitos que, impressionados por realidades como a pandemia, a guerra, a migração forçada, a pobreza, a violência, as calamidades climáticas, se interrogam: Porque é que me acontece isto? Porquê precisamente a mim? Porquê agora? Mas a pergunta central da nossa existência é esta: Para quem sou eu?[23]. Respondendo a esta questão podemos precipitar-nos a dizer: “Sou para Deus!”, porém o Papa esclarece: “És para Deus, sem dúvida, Mas Ele quis que também sejas para os outros, e pôs em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para ti, mas para os outros[24]. Assim sendo, mais uma vez, faz todo o sentido apresentar a jovem Maria de Nazaré como um autêntico modelo dos jovens em movimento, que não perdem tempo a mendigar a atenção e a aprovação dos outros nem dependem daquele like nas redes sociais, mas põe-se em movimento “para procurar a conexão mais genuína, aquela que provém do encontro, da partilha, do amor e do serviço[25].

É importante sublinhar que nem toda a pressa é boa, porque se é verdade que há uma pressa boa, como a pressa de Maria, que a projeta sempre para o alto e para o outro, também há uma pressa não boa, como “a pressa que nos leva a viver superficialmente, tomar tudo levianamente sem empenho nem atenção, sem nos envolvermos verdadeiramente no que fazemos[26], ou seja, a pressa da azáfama de quem tem sempre mil e uma tarefas para fazer, mas não se dedica ao que é realmente importante, como, por exemplo a inquietação de Marta que se agitava em múltiplos serviços, descurando a atenção devida ao hóspede que acolhia em sua casa (cf. Lc 10,38-42). Esta atitude crónica de leviana agitação pode vir a transformar-se gradualmente em indiferença que esfria as amizades e torna estéreis as relações afetivas ou, pior ainda, em insensibilidade que gera desprezo pelo outro: esta é a pressa má de quem passa por cima dos outros e não olha a meios para atingir os fins, como, por exemplo, a pressa da filha de Herodíade que, obedecendo cegamente aos caprichos de sua mãe, voltou a entrar apressadamente no palácio do rei Herodes para lhe fazer o seu vil pedido: “Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Batista” (Mc 6,25). Portanto, há que ter cuidado com as nossas pressas para que elas nos projetem devidamente para Deus e para os outros, caso contrário, corremos o risco de cair na desgraça, pois quem se precipita com uma pressa egoísta cai certamente na ruína (cf. Prov 21,5). Neste contexto, ressoa ainda com mais gravidade a pergunta que o Papa Francisco dirige aos jovens acerca das suas pressas: “Quais são as «pressas» que vos movem, queridos jovens? O que é que vos faz sentir de tal maneira a premência de vos moverdes que não conseguis ficar parados?[27]. De notar que o substantivo grego spoude que o Evangelista Lucas utiliza para descrever a pressa de Maria é o mesmo que o Evangelista Marcos emprega para descrever a ansiedade perversa da filha de Herodíade. De facto, no grego, spoude pode ter três significados: pressa no sentido neutro de rapidez para fazer alguma coisa; ansiedade no sentido negativo de comoção aflitiva que gera impaciência e inquietação; diligência no sentido positivo de zelo, solicitude, interesse e seriedade no trato de algo. Obviamente, a pressa de Maria não é apenas a velocidade com que se move, correndo sobre os montes, mas exprime também a sua diligência, a atenção solícita com que enfrenta a viagem e o seu entusiasmo para partilhar a alegria irreprimível que acolhe dentro de si: Jesus, o Senhor[28]. É bem claro que a pressa mariana, que é a pressa boa, tem sobremaneira este sentido de diligência para fazer o bem e de solicitude para com o próximo, como atesta São Paulo que utiliza essa mesma terminologia da pressa na sua exortação aos Romanos para praticarem a caridade sem hipocrisia, sendo afetuosos uns com os outros no amor fraterno, adiantando-se uns aos outros na estima mútua, não sendo preguiçosos na sua dedicação, mas fervorosos de espírito, solidários para com os outros nas suas necessidades (cf. Rom 12,9-13); e ainda no seu apelo aos Coríntios para sobressaírem na caridade na coleta em favor dos cristãos de Jerusalém, incitando-os com o zelo das igrejas da Macedónia que em sua extrema pobreza foram capazes de se apressar em generosidade (cf. 2 Cor 8,1-8) e com o zelo de Tito que, abraçando essa causa, espontaneamente e mais apressado do que nunca, partiu para junto dos Coríntios (cf. 2 Cor 8,16-17)[29]. Nesta perspetiva da pressa paulina, que se traduz normalmente por zelo pelos outros, podemos compreender melhor a iniciativa da Virgem Maria que, impelida pela caridade[30], parte solicitamente para visitar a sua prima Isabel como a primeira grande manifestação da misericordiosa associação da mãe com o Filho na obra da salvação da humanidade[31]. Efetivamente, desde o preciso momento em que Maria, acreditando na salvação prometida, concebe o Redentor dos Homens em seu seio virginal, ela torna-se a Mãe da Misericórdia e desde então é animada por uma solícita ternura que a comove para caminhar no meio do seu povo, cuidando das suas angústias e vicissitudes[32].

 

Maria visita e recebe hospitalidade para transmitir misericórdia

Ao longo dos séculos, em tantos lugares remotos da terra, a humilde serva do Senhor continua a correr apressadamente para visitar os seres humanos com aparições ou graças especiais. Com efeito, a partir da Anunciação, a Virgem Maria está em contínua Visitação, pois desde aquela primeira vez quando partiu para ir visitar a sua prima Isabel, “não cessa de atravessar espaços e tempos para visitar os filhos carecidos da sua ajuda carinhosa[33]. Neste âmbito, é importante valorizar a atualização da mensagem do Evangelho à luz das diversas aparições marianas e sublinhar a força evangelizadora da piedade popular mariana[34] que se experimenta onde quer que haja um santuário, uma igreja, uma capela, um oratório, um nicho, uma imagem dedicada a Nossa Senhora, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Dentre estas visitas especiais que a Virgem Maria tem feito no decorrer da história do mundo dilacerado por guerras e discórdias ressaltam indubitavelmente as aparições de Nossa Senhora do Rosário em Fátima, em Portugal, donde ela “lançou a todas as gerações a mensagem forte e maravilhosa do amor de Deus que chama à conversão, à verdadeira liberdade[35]. A participação na grande peregrinação intercontinental dos jovens a Lisboa há de fazer-nos passar inevitavelmente por Fátima e, mesmo que não suceda uma visita física à capelinha das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, iremos ser visitados pela Mensagem de Fátima, que o Sucessor de Pedro certamente evocará repetidas vezes durante os discursos da JMJ em Lisboa em agosto de 2023. E da mesma maneira que todos os caminhos de Lisboa irão passar por Fátima, também todos as reflexões sobre a Mensagem de Fátima nos farão mergulhar no mistério da Santíssima Trindade, nessa luz imensa que penetrou os três pastorinhos no mais íntimo da alma[36], nesse amor de Deus, que se condensa e se reflete no Imaculado Coração de Maria, que como ninguém mais nos pode desvelar os segredos da Divina Misericórdia[37]. A Misericórdia de Deus é a característica peculiar da Mensagem de Fátima, que ressoa no mundo inteiro como um anúncio do triunfo do amor de Deus nos dramas da história. O convite à oração e o apelo à conversão que Nossa Senhora dirige a todas as gerações por meio do testemunho místico e profético dos três pastorinhos de Fátima, só se podem entender devidamente no contexto da centralidade da misericórdia que “é o fio condutor das aparições, desde a sua abertura até ao seu fecho, passando pelos seus momentos mais significativos[38]. Destarte, por ocasião do centenário das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, o papa Francisco referiu-se a Maria como “sinal e sacramento da Misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo[39].

 

De notar que nas três Mensagens preparatórias para a celebração festiva da JMJ Lisboa 2023, o papa apresenta a Misericórdia de Deus enquanto coração pulsante do Evangelho de Cristo[40], tentando apontar aos jovens caminhos concretos para viver o dinamismo das obras de misericórdia. Na Mensagem de 2020, não aparece explicitamente a palavra misericórdia, mas define-se a compaixão como “o estado de ânimo de quem se deixa comover «até às entranhas» pela dor alheia[41], que é próprio de quem oferece misericórdia. A propósito disto, o papa elogia a atitude dos jovens que se sabem compadecer, mostrando-se disponíveis para socorrer os necessitados em situações de catástrofe e mobilizando-se afincadamente na defesa pelas causas ecológicas, e pede-lhes para não deixarem que lhes roubem essa sensibilidade para ouvir o clamor da terra e o gemido de quem sofre[42]. Na Mensagem de 2021, a misericórdia surge no contexto da vocação de Saulo, como uma graça, um amor imerecido e incondicional, uma luz que transforma radicalmente a vida de quem se encontra com Cristo[43]. E servindo-se do exemplo da conversão de Saulo, que depois da fulguração na estrada de Damasco preferirá ser chamado de Paulo, o papa afirma que através do encontro pessoal com Cristo é sempre possível recomeçar: “Nenhum jovem está fora do alcance da graça e da misericórdia de Deus. De ninguém se pode dizer: Está demasiado longe… É demasiado tarde… Quantos jovens sentem a paixão de se opor e ir contra corrente, mas trazem escondida no coração a necessidade de se comprometer, de amar com todas as suas forças, de se identificar com uma missão![44]. E no final da referida Mensagem desafia os jovens a serem missionários da misericórdia, espalhando a mensagem do amor de Deus que salva, dando testemunho da sua fé em Cristo Ressuscitado junto dos seus coetâneos com quem se cruzam nos “caminhos de Damasco” do nosso tempo: na escola, na universidade, no trabalho, no mundo digital, por todo o lado[45].

Na Mensagem de 2022-2023, o Sumo Pontífice volta a falar de misericórdia, mas desta vez a propósito da hospitalidade decorrente do encontro maravilhoso entre a jovem Maria e a idosa Isabel, desafiando os jovens a encontrarem-se concretamente com os avós e a escutarem a experiência de vida dos mais idosos, sem medo de acolher as diferenças, pois, hoje mais do que nunca, temos necessidade da hospitalidade recíproca entre jovens e idosos, para não esquecer as lições da história e para superar os extremismos deste tempo. Só os jovens capazes de superar as distâncias entre gerações para escutar os dramas e os sonhos dos idosos serão capazes de semear a paz para superar as guerras, pois somente se tiverem memória é que poderão ser “a esperança duma nova unidade para a humanidade fragmentada e dividida[46]. Neste contexto, o real acolhimento que o casal de idosos, Isabel e Zacarias, oferece à jovem Maria ensina-nos que a verdadeira hospitalidade acontece “quando colocamos no centro o hóspede e não a nós próprios[47]. E só assim é que ocorrem as surpresas e se criam as condições de possibilidade para as irrupções do Espírito Santo.

Logo que ouve a saudação de Maria, Isabel fica cheia do Espírito Santo e estremece de alegria, porque pressente o Advento do Messias Salvador. A alegria de Isabel que se apressa em acolher a jovem Maria, cujo fruto do seu ventre é Jesus faz lembrar a alegria de Zaqueu que desce depressa do sicómoro para acolher Jesus em sua casa, porque recebeu dele um olhar de misericórdia que nunca tinha encontrado nos outros e experimentou, talvez pela primeira vez, uma proximidade sem preconceitos e um respeito sem juízos temerários nem condenações (cf. Lc 19,5-6)[48]. É a alegria da experiência da misericórdia que suscita em mim a pressa de acolher Jesus na intimidade do meu ser, a urgência de estar com Ele na oração pessoal e o desejo de querer conhecê-Lo melhor no rosto do outro que vem ao meu encontro. Isabel e Zacarias hospedaram Maria e Jesus com alegria, porque se sentiram misericordiados com essa visita surpreendente do amor de Deus que se reflete na jovem Maria de Nazaré: “A maior prenda que Maria oferece à sua parente idosa é levar-lhe Jesus: certamente também a ajuda concreta foi muito preciosa; mas nada teria podido encher a casa de Zacarias com uma alegria tão grande e um significado assim pleno como o fez a presença de Jesus no ventre da Virgem, que se tornara o tabernáculo do Deus vivo[49]. Isabel, idosa e grávida, representa aqui a esperança messiânica de todo o povo de Israel. O grito de alegria de Isabel (Lc 1,42-43) faz lembrar as aclamações de júbilo que os israelitas exteriorizavam diante da Arca da Aliança (cf. 1Sm 4,5; 1Cr 15,28; 1 Cr 16,31; 2Cr 5,13). A Virgem Mãe é a Arca da Aliança (cf. 2Sm 6,11; 1Cr 13,14) que nos traz a bênção do Senhor e comunica a divina misericórdia.

 

Maria glorifica e proclama a grandeza da misericórdia de Deus

Isabel, tocada pelo precursor e inspirada pelo Espírito Santo, intui que Maria vai ser mãe do Messias e exterioriza a sua alegria numa exclamação de louvor, acrescentando mais palavras à oração da Ave-Maria que o Anjo Gabriel iniciou: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28); e acrescenta agora Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre [Jesus]” (Lc 1,42). Maria de Nazaré é a bendita entre todas as mulheres, porque sintetiza em si a história salvífica do povo de Israel. Ela representa o pequeno resto de Israel que permaneceu fiel à vontade de Deus e perseverante na esperança messiânica (cf. Is 1,9; 4,3; Jr 24,1-10; Br 2,13; Mq 5,6-14; Sf 3,11-13; Ez 9,9; Jl 3,5; Am 5,15; Abd 1,17). Maria de Nazaré é a personificação corpórea da Filha de Sião, que solta gritos de alegria e exulta de todo o coração perante a manifestação salvífica do Senhor (Sf 3,17; Zc 9,9; cf. também Is 1,8; 12,6; Jr 4,31; Zc 2,14). Ela é a fonte de todas as bênçãos messiânicas em sua realização plena e o compêndio da história de salvação que Deus concretizou com o povo eleito de Israel:

  • Maria é a Nova Eva, mãe de todos os viventes, aquela que com o sim da sua obediência desatou o nó que a desobediência de Eva tinha atado. A Virgem cheia de graça é aquela que, pelo sim total da sua fé, concebeu o Filho de Deus, que esmagou a cabeça da serpente enganadora com o seu calcanhar imaculado (cf. Gn 3,15 // Lc 1,38).
  • Maria é a Nova Sara que acreditou no cumprimento de tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor e experimentou na sua vida que para Deus nada é impossível (cf. Gn 18,13-14 // Lc 1,37).
  • Maria é a Nova Rebeca, virgem muito bela que saiu a correr à pressa para anunciar notícias felizes e que foi abençoada para vir a ser mãe de milhares de milhares (cf. Gn 24,28.60 // Lc 1,39).
  • Maria é a Nova Lia que exulta de alegria e se considera bem-aventurada pelas maravilhas que o Senhor lhe concedeu (cf. Gn 30,13 // Lc 1,48b).
  • Maria é a Nova Raquel, para cuja humilhação Deus olhou, apagando a sua vergonha (cf. Gn 30,22-23 // Lc 1,48a).
  • Maria é a Nova Miriam (irmã de Moisés e Aarão), que canta e dança de alegria, porque o Senhor Deus manifestou o seu poder e a sua glória no meio do seu povo (cf. Ex 15,20-21 // Lc 1,46ss).
  • Maria é a Nova Jael, bendita entre as mulheres, porque esmagou a cabeça do inimigo, trazendo a paz para o seu povo (cf. Jz 5,24.32 // Lc 1,42).
  • Maria é a Nova Débora, a Mãe de Israel, que se levantou para salvar o seu povo e para louvar o triunfo do Senhor (Jz 5,3.7 // Lc 1,46s).
  • Maria é a Nova Rute que achou graça favorável diante dos olhos do seu Senhor (Rt 2,10 // Lc 1,30).
  • Maria é a Nova Ana que dá voz às esperanças messiânicas dos pobres, dos pequeninos e dos indigentes, que anseiam por uma transformação da história e projetam uma inversão da ordem social no intuito de instaurar um reino de paz e de justiça (1Sm 2,4-8 // Lc 1,51-53).
  • Maria é a Nova Judite, bendita pelo Deus altíssimo mais do que todas as mulheres da terra (Jdt 13,18 // Lc 1,42), a glória de Jerusalém, a grande honra do povo de Israel (Jdt 15,9-10 // Lc 1,38), que procede com retidão na presença de Deus e que entoa um cântico, exaltando as maravilhas do Senhor Todo-Poderoso (Jdt 16,1-17 // Lc 1,46s).
  • Maria é a Nova Ester que conquistou as graças e os favores de Deus, mais do que nenhuma outra mulher (Est 2,17//Lc 1,30) e que intercede diante de Deus para que ouça a voz dos desamparados e os livre de todas as suas angústias (Est 4C,12-30//Lc 1,46s).
  • Maria é a Virgem que conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-á Emanuel, que quer dizer Deus-connosco, sinal de que Deus permanece no meio do seu povo (Is 7,14//Mt 1,23);
  • Maria é a Mãe que está para dar à luz Aquele que vem para congregar os seus irmãos e trazer a paz ao seu povo (Mq 5,2-4//Mt 2,5-6).

À luz desta retrospetiva veterotestamentária, podemos afirmar que o Magnificat não é apenas um canto que brota do coração e dos lábios de Maria de Nazaré, mas é também e sobretudo um hino de louvor à obra da misericórdia de Deus ao serviço da grande história da salvação. No Magnificat, Maria glorifica e proclama a grandeza da misericórdia de Deus que se revela e atua na sua humilde pessoa, mas, simultaneamente, Maria relê toda a história do seu povo de Israel como história da misericórdia de Deus e, por isso, explode de alegria em Deus, seu Salvador[50]. O Magnificat é uma síntese compacta da história da salvação realizada por Deus no âmbito do povo de Israel[51]. O motivo condutor que faz ecoar no Magnificat a esperança messiânica de Israel é o da misericórdia de Deus. O Magnificat brota da perceção que Maria tinha de si própria como eleita por Deus para mãe do Messias. Maria sente-se objeto do olhar misericordioso de Deus e depois de experimentar em si mesma a intensidade desse amor divino, põe-se a contemplar a sua própria eleição na perspetiva do Antigo Testamento e glorifica o Senhor pelos feitos gloriosos do passado da sua gente à luz da misericórdia divina que se estende de geração em geração sobre aqueles que lhe são fiéis (Lc 1,50). O Magnificat revela-nos assim uma alma que se nutre da Sagrada Escritura e ora com a Sagrada Escritura[52].

Ao dizer que Deus se lembrou da sua misericórdia como tinha prometido aos seus antepassados, a Abraão e à sua descendência (Lc 1,54-55), Maria afirma que Deus é fiel a si próprio e às suas promessas de salvação feitas aos patriarcas e aos profetas do povo de Israel. “Maria canta de maneira incomparável o que os pobres de Deus tinham cantado antes dela: a ternura misericordiosa do Senhor Omnipotente e a sua fidelidade[53].

A palavra hebraica que está por trás da misericórdia evocada por Maria no Magnificat é a palavra hésed que indica uma profunda atitude de bondade, fidelidade e amor compassivo e afetuoso. Quando no Antigo Testamento o vocábulo hésed é referido ao Senhor, isso acontece sempre em relação com a aliança que Deus fez com Israel. Esta aliança foi da parte de Deus um dom e uma graça para Israel[54]. E apesar da infidelidade do povo de Israel, Deus permanece sempre fiel à sua santa aliança. O Deus da aliança é fiel a si próprio e responsável pelo seu amor e fruto deste amor é o perdão mais potente do que a traição e a misericórdia mais forte do que o pecado.

 

Há uma estreita ligação entre a misericórdia de Deus e a sua aliança: a aliança nasce da misericórdia e a misericórdia é o conteúdo da aliança. A misericórdia que Maria canta é a que Deus fielmente desenrolou ao longo de séculos e agora manifestou definitivamente ao encarnar em Jesus[55]. A Maria do Magnificat é a filha predileta de Israel a quem o Senhor se declarou: “Amei-te com um amor eterno; por isso, dilatei a minha misericórdia para contigo” (Jr 31,3). Deus recordou-se do seu amor para com Abraão e a sua descendência – o Povo de Israel. Deus finalmente vem em auxílio de Israel, seu servo (cf. Is 41,8-10; 43,10; 44,1.21; 45,4; 48,20).

 

Na pessoa de Maria, o amor de Deus para com Israel é novamente restaurado, porque nela se inaugura uma nova e eterna aliança que dá a garantia de que a misericórdia de Deus é para sempre. Maria é a serva que representa Israel – servo desvalido e socorrido por Deus, mas é também o protótipo da Igreja das bem-aventuranças. Na passagem prodigiosa da virgindade à maternidade ela descobre o estilo e o esquema da ação renovadora de Deus, que se reflete também na esfera política e social no espírito evangélico dos valores das bem-aventuranças[56]. Ao reconhecer o poder da misericórdia de Deus, Maria recorda o amor de predileção de Deus para com os pequenos e os humildes, entoando um cântico que não só louva as maravilhas que o Todo-Poderoso realizou na história do povo de Israel, mas também elogia a conduta verdadeiramente revolucionária de Deus e antecipa as bem-aventuranças de Jesus[57]. “Maria resume em si a história do povo veterotestamentário de Deus e é, ao mesmo tempo, o gérmen do povo neotestamentário de Deus[58]. E é-o ainda antes de os Apóstolos serem chamados a aparecer em cena. Maria como aquela que vive exclusivamente da graça e é chamada a ser serva da misericórdia de Deus, representa a Igreja na sua essência mais íntima.

 

O cântico de Maria é o cântico dos pobres que reconhecem a vinda de Deus para os libertar. Deus cumpre as suas promessas, toma o partido dos pobres e realiza uma transformação na história, invertendo a ordem social: os soberbos são humilhados enquanto os humildes são exaltados, os ricos e os poderosos são depostos e despojados enquanto os pobres e os indigentes são recompensados e cumulados de bens. A linguagem revolucionária do Magnificat dá-nos critérios para interpretar a ação de Deus na história como uma revolução da ternura e da misericórdia[59], que subverte os valores do mundo à luz dos valores propostos nas bem-aventuranças do Evangelho. A espiritualidade do Magnificat desafia-nos a uma atitude profunda de misericórdia eficaz para a transformação de cada pessoa humana e de todas as sociedades humanas. A misericórdia que Maria canta no Magnificat desafia-nos a começar de novo e inspira uma humanidade nova, orientada pelos valores do Reino de Deus, a saber: a verdade, a justiça, a paz, a fraternidade, o perdão, a liberdade, a alegria da fé, da esperança e da caridade, o respeito pela dignidade humana e a solidariedade social.

 

A Virgem do Magnificat é, portanto, figura da Igreja das bem-aventuranças que professa e proclama a misericórdia de Deus, procurando introduzi-la e encarná-la na vida e implorando-a diante de todas as ameaças que obscurecem o horizonte da humanidade contemporânea[60]. Ao ver-se envolvida pelo amor misericordioso de Deus, Maria exulta de alegria, não só porque relê toda a história da salvação como história da misericórdia de Deus, mas também porque antevê um futuro novo, a irradiar a partir da fé no Filho do seu ventre que Deus enviou ao mundo para derramar a plenitude do seu amor misericordioso “que se estende de geração em geração” (Lc 1,50) até hoje, ao nosso tempo. Estas palavras do Magnificat de Maria têm conteúdo profético que diz respeito a todo o futuro da humanidade sobre a terra. Com efeito, todos nós que vivemos atualmente na terra somos uma geração que está incluída nesta promessa: «Como Maria e com ela, também nós podemos e devemos fazer a experiência da misericórdia de Deus deixando-nos salvar por Cristo; cantá-la descobrindo nos complexos caminhos e dramas do mundo a vitória da misericórdia sobre o mal; testemunhá-la vivendo as bem-aventuranças dos misericordiosos, a compaixão do bom samaritano, realizando as obras de misericórdia e promovendo a solidariedade, a justiça e a paz na sociedade»[61].

 

Maria predisse profeticamente: “De hoje em diante, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1,48). A inspiração profética que dela se apodera faz-lhe ver as futuras gerações a proclamá-la bem-aventurada; mas esta contemplação, longe de lhe inspirar orgulho, abate-a diante da santidade de Deus (Lc 1,49). Com esta previsão, Maria prefigura e projeta a Igreja das bem-aventuranças para um futuro sem fim. A ela felicitarão todos os que reconhecerem os valores do Evangelho de Cristo. Maria faz ressoar a voz de várias gerações em oração, que imploram a misericórdia de Deus, perante as múltiplas formas do mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam: “Jesus é a resposta de Deus face aos desafios da humanidade em todos os tempos. E esta resposta, Maria leva-a dentro de si quando vai ao encontro de Isabel. (…) Naquela região montanhosa Jesus, com a mera presença, sem dizer uma palavra, pronuncia o seu primeiro «discurso da montanha»: proclama em silêncio a bem-aventurança dos pequeninos e dos humildes que se entregam à misericórdia de Deus[62]. Como Maria, também a Igreja tem a missão de levar Jesus aos homens do seu tempo, “de tornar experiencial Aquele que se fez homem para a salvação dos homens[63].

 

Rumo a uma nova fraternidade missionária com e como Maria

Em Maria, é a Igreja toda que caminha junta “na caridade de quem se move ao encontro daquele que é mais frágil; na esperança de quem sabe que será acompanhado neste seu andar, e na fé de quem tem um dom especial a partilhar[64]. Neste tempo que nos cabe viver, depois dum prolongado período de distanciamento e separação, somos convidados a levantar-nos para caminharmos todos juntos, em estilo sinodal, para reencontrarmos juntos “a alegria do abraço fraterno entre os povos e as gerações, o abraço da reconciliação e da paz, o abraço duma nova fraternidade missionária[65], que desperte no nosso coração um anseio mundial de fraternidade e nos ajude a sonhar “como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos[66]. A recente pandemia ajudou-nos a compreender que ninguém se salva sozinho e forçou-nos a olhar para além das comodidades pessoais e das pequenas seguranças, impelindo-nos a optar pela solidariedade e pela misericórdia, abrindo-nos o horizonte da esperança que torna a vida mais bela e digna[67]. A grande mensagem de que é portadora a Igreja é Jesus, “o rosto misericordioso do Pai[68] que nos revela o amor infinito que Deus tem por cada um de nós e nos oferece a sua vida como o caminho que une Deus e o homem e como a verdade que nos liberta do mal e do pecado e nos abre à esperança de sermos amados para sempre[69]. E uma vez que a Virgem Maria, Mãe de Jesus, experimentou e praticou de um modo excecional a misericórdia durante toda a sua vida terrena, n’Ela reconhecemos “o modelo de como acolher este imenso dom na nossa vida e comunicá-lo aos outros, fazendo-nos por nossa vez portadores de Cristo, portadores do seu amor compassivo, do seu serviço generoso, à humanidade sofredora[70].

 

Quando cheia de santa alegria, Maria atravessou apressadamente os montes da Judeia para transmitir misericórdia à sua prima Isabel e seu marido Zacarias, tornou-se a “imagem da futura Igreja que no seu seio leva a esperança do mundo através dos montes da história[71]. E quem mais do que Maria poderia ser sinal de esperança para o nosso tempo, ela, que outrora pelo seu sim na Anunciação abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo, agora, pela sua misericordiosa intercessão, resplandece no céu como “uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta[72].

 

A exemplo dos primeiros cristãos, também nós, hoje, recorremos a Ela como a uma Mãe de Misericórdia, na profunda convicção de que, depois de elevada ao céu, Ela continua a volver os seus olhos misericordiosos sobre as nossas angústias e as nossas aflições. Em Fátima, o papa Francisco afirmou com veemência que “temos Mãe, temos Mãe[73] e agarrados a esta Mãe doce e solícita temos razões para viver da esperança que assenta em Jesus. A Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol não veio a Fátima para que a víssemos, mas veio espargir a Luz de Deus, envolvendo-nos no manto de Luz que Deus lhe dera, veio para nos mostrar Jesus, a única esperança que pode ser “a alavanca da vida de todos nós[74], que nos pode sustentar sempre até ao último suspiro.

 

Que a Rainha do Céu, Mãe de Ternura e de Misericórdia, rogue por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, para que sejamos dignos de entrar nos esplendores da luz perpétua, onde contemplaremos face a face o rosto da Divina Misericórdia, Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, que nos há de transfigurar com o Seu Espírito Santo, mergulhando-nos nas profundezas do mistério de Deus, isto é, no coração da Santíssima Trindade, donde “brota e flui incessantemente a grande torrente da misericórdia[75].

[1] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §1.

[2] Walter KASPER, A Misericórdia, Condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã, Cascais: Lucerna, 2015, p. 250.

[3] «…em Cristo e por Cristo, Deus com a sua misericórdia torna-se também particularmente visível… Ele próprio encarna-a e personifica-a. Ele próprio é, em certo sentido, a misericórdia.» JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Dives in Misericordia (30 de novembro de 1980), n. 2.

[4] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §3.

[5] Ibidem, §3.

[6] Cf. Ibidem, §5.

[7] Cf. FRANCISCO, Exortação Apostólica Christus vivit (25 de março de 2019), nn. 12(2x), 20, 116, 119 (2x), 120, 136, 142, 188.

[8] Ibidem, n. 20.

[9] FRANCISCO, Mensagem para a XXXV Jornada Mundial da Juventude 2020, §20.

[10] Ibidem.

[11] Ibidem, §23.

[12] Cf. IDEM, Mensagem para a XXXVI Jornada Mundial da Juventude 2021, §26.

[13] Ibidem, §27.

[14] IDEM, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §6.

[15] Cf. ANTÓNIO COUTO, Quando Ele nos abre as Escrituras. Domingo após Domingo. Uma Leitura bíblica do Lecionário Ano C, Lisboa: Paulus 2015, pp. 27-28.

[16] JOÃO PAULO II, Angelus, 13 de abril de 2003, XVIII Jornada Mundial da Juventude.

[17] Cf. IDEM, Mensagem para a XVIII Jornada Mundial da Juventude 2003, nn. 4 e 6.

[18] FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288.

[19] AMBRÓSIO, Exposição sobre o Evangelho de São Lucas, II, 19-20: CCL 14, p. 39. Este texto é citado pelo Papa Francisco no corpo do texto da Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §7.

[20] Cf. ESTANISLAU PAPCZYSNKI, Inspectio cordis, II, f. 123v, in IDEM, Pisma Zebrane, Varsóvia: MIC 2007, p. 882.

[21] Cf. CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA, Anunciai (29 de junho de 2016), n. 17.

[22] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §11.

[23] Ibidem, §10.

[24] IDEM, Exortação Apostólica Christus vivit (25 de março de 2019), n. 286.

[25] IDEM, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §11.

[26] Ibidem, §13.

[27] Ibidem, §10.

[28] Cf. CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA, Alegrai-vos (2 de fevereiro de 2014), n. 13.

[29] A expressão “mais apressado do que nunca” foi emprestada da tradução portuguesa da Bíblia de Jerusalém de 2 Cor 8,17. A Bíblia dos Capuchinhos traduz o adjetivo nominativo, masculino, singular no grau comparativo spoudaióteros (que à letra quer dizer “mais apresado do que”) por “muito solícito” à semelhança da tradução “muito diligente” da Bíblia protestante Almeida Corrigida Fiel (1753/1995).

[30] Cf. JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 12.

[31]Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel…”. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen gentium, n. 57.

[32] Cf. FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §12.

[33] Ibidem.

[34] Cf. IDEM, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), nn. 122-126.

[35] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §20.

[36] “[ao Francisco] O que mais o impressionava ou absorvia era Deus, a Santíssima Trindade, nessa luz imensa que nos penetrava no mais íntimo da alma”. Memórias da Irmã Lúcia, Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 201115, Quarta Memória, p. 145.

[37] Cf. Ibidem, Primeira Memória, p. 35.

[38] Eloy BUENO DE LA FUENTE, A Mensagem de Fátima. A misericórdia de Deus: o triunfo do amor nos dramas da história, Fátima: Santuário de Fátima, 2014, p. 251. Sobre a misericórdia como chave de leitura para compreender o acontecimento-Fátima cf. Ibidem, pp. 239-267.

[39] FRANCISCO, Peregrinação a Fátima: Bênção das velas (12 de maio de 2017), §4.

[40] Cf. IDEM, Bula Misericordiae Vultus (11 de abril de 2015), n. 12.

[41] IDEM, Mensagem para a XXXV Jornada Mundial da Juventude 2020, §13.

[42] Cf. Ibidem, §14-15. No âmbito da sensibilidade misericordiosa para ouvir o clamor da terra, na linha da conversão ecológica apontada na Carta Encíclica Laudato Si’ (24 de maio de 2015), nn. 216-221, o papa Francisco propôs o cuidado da casa comum como uma nova obra de misericórdia corporal e espiritual. Cf. Mensagem para a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (1 de setembro de 2016), n. 5.

[43] Cf. IDEM, Mensagem para a XXXVI Jornada Mundial da Juventude 2021, §9.

[44] Ibidem, §15.

[45] Ibidem, §§ 27-28.

[46] IDEM, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §16.

[47] Ibidem, §14. Veja-se também Regra de São Bento, Cap. 53: “Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo…”.

[48] Cf. Ibidem, §§ 14-15.

[49] Ibidem, §17.

[50] Cf. António MARTO, Carta Pastoral 2015-2017 no Centenário das Aparições, Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia, Fátima: Diocese de Leira-Fátima, n. 7.

[51] Armindo VAZ, A Misericórdia de Deus no Evangelho de Lucas in A Misericórdia de Deus na Bíblia, Fátima, 2013: Marianos da Imaculada Conceição, p. 42.

[52] A Bíblia de Jerusalém chega a adiantar que o evangelista Lucas deve ter encontrado este cântico no ambiente dos “pobres do Senhor”, onde era talvez atribuído à “Filha de Sião” e decidiu inseri-lo na sua narrativa, julgando conveniente pô-lo nos lábios de Maria. (Cf. nota c referente a Lc 1,46). Contudo, parece-nos ser bastante redutor afirmar que o Magnificat é uma construção literária totalmente anterior ao Novo Testamento. Se por um lado, é muito improvável que Maria de Nazaré seja a única compositora deste cântico cheio de citações e reminiscências do Antigo Testamento, por outro lado, é muito provável que se tenha inspirado num cântico messiânico já existente para entoar um hino de louvor à misericórdia divina com palavras similares àquelas que o último redator do Evangelho de Lucas consagrou por escrito.

[53] H. G. TROADEC, A Bíblia e a Virgem, Caderno bíblico nº 2, coleção «Evangelho», Fátima: Verdade e Vida, 1960, p. 37.

[54] Cf. JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Dives in Misericordia (30 de novembro de 1980) n. 4, nota 52.

[55] Armindo VAZ, A Misericórdia de Deus no Evangelho de Lucas in A Misericórdia de Deus na Bíblia, Fátima, 2013: Marianos da Imaculada Conceição, p. 47.

[56] A este respeito veja-se a nota referente a Lc 1,46-55 na Bíblia do Peregrino.

[57] A Fé dos Católicos, Catequese Fundamental, sob a direção de Bruno CHENU e François COUDREAU, Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1991, IV Parte, Cap. 11, IV, p. 526.

[58] Walter KASPER, A Misericórdia, Condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã, Cascais: Lucerna, 2015, p. 250.

[59] “Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura”. FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), n. 88.

[60] Cf. JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Dives in Misericordia (30 de novembro de 1980), n. 15.

[61] António MARTO, Carta Pastoral 2015-2017 no Centenário das Aparições, Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia Fátima: Diocese de Leira-Fátima, n. 7.

[62] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §17.

[63] José CORDEIRO, Carta pastoral A alegria de evangelizar como Maria (2 de outubro de 2016), Bragança: Diocese de Bragança-Miranda, n. 2.3.

[64] CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA, Alegrai-vos (2 de fevereiro de 2014), n. 13.

[65] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §21.

[66] FRANCISCO, Carta Encíclica Fratelli Tutti (3 de outubro de 2020), n. 8.

[67] Cf. Ibidem, nn. 54-55.

[68] IDEM, Bula Misericordiae Vultus (11 de abril de 2015), n. 1.

[69] Cf. Ibidem, n. 2

[70] FRANCISCO, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023, §18.

[71] BENTO XVI, Carta Encíclica Spe salvi (30 de novembro de 2007), n. 50.

[72] IDEM, Discurso de saudação à chegada a Portugal (11 de maio de 2010) em referência explícita à Mensagem de Fátima, condensada na promessa de Nossa Senhora.

[73] FRANCISCO, Peregrinação a Fátima: Homilia da Santa Missa no Santuário de Nossa Senhora de Fátima (13 de maio de 2017), §3.

[74] Ibidem.

[75] IDEM, Bula Misericordiae Vultus (11 de abril de 2015), n. 25.

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